Número total de visualizações de páginas

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Dia das bruxas

Dia das bruxas

Bato à porta e entro sem pedir licença, digo boa tarde e uma voz me responde de igual forma, não vi ninguém, o chão em mosaicos pretos e brancos, axadrezavam o ambiente húmido, frio e com cheiro a carne!
A pele eriçada pelo ar frio que a amordaçava e a fazia desmembrar os braços que se estenderam, estava de manga curta!
Em frente uma vitrina com aspeto demoníaco, meus braços estendidos fizeram chegar as mãos ao vidro, o cérebro inconfessavelmente trouxe-me aos olhos, algumas vísceras, pedaços de carne ensanguentada e resíduos de pelo e penas!
Ouvia música, uma orquestra tocava uma marcha fúnebre, reparei que a emissora estava a celebrar uma missa!
Ouvi ferro com ferro, um afiar de facas, na frente via-se um cutelo espetado num cepo de madeira com resíduos de carne!
Um ser de branco se aproximou com ar sorridente, com sangue desde o pescoço aos joelhos, ainda mantinha uma faca na mão, a outra não se via, estava com uma luva de aço enfiada.
Acercou-se de mim e disse: Que deseja?
Respondi prontamente: Um frango por favor!
Depois saí pela mesma porta e subi ao primeiro andar.
O talho fica mesmo por baixo da casa onde moro!

José Alberto Sá  

Mereço

Mereço

Trouxeram-me à presença da moça mais bela! Diziam: Virgem! Ela é virgem!
À sua volta as aves chilreavam, umas voavam, outras poisavam e outras debicavam as mãos da donzela.
Trouxeram-me a mais doce das moças, para que eu a leva-se comigo! Sorriu para mim e eu sorri para ela. Diziam: É virgem! Diziam os pássaros que falavam, como se fossem anjos descidos ao verde prado, de uma floresta encantada!
Estávamos sós e os pássaros que nos rodeavam e nos abraçavam com canções. Sim canções de embalar!
Trouxeram-me à presença da mais perfeita moça, uma candura vestida de vermelho carmim, com grande decote e um laçarote que lhe afiava a cintura!
Nas mãos segurava as sementes doiradas do trigo, as que debicavam os pássaros.
Trouxeram-me a moça mais completa, abraçamo-nos e nos beijamos ali.
Os pássaros bateram as asas e se ouviram palmas! A canção suava ao longe numa voz fina e acompanhada por uma Lira.
Ouvi um som forte junto do meu ouvido, abri os olhos e desliguei o despertador! Os pássaros ficaram no sonho, mas a moça mais linda continuava a meu lado, tão real que ainda vivo a sonhar.


José Alberto Sá

domingo, 30 de outubro de 2016

Talvez a carapuça sirva!


Talvez a carapuça sirva!

Talvez um dia corresponda rapidamente às afirmações que alguns pronunciam, talvez um dia eu venha a compreender algumas vozes que falam contra a hipocrisia e soam hipocrisia!
Talvez um dia eu corresponda!
Mas o mundo está em oposição em relação aos hipócritas e eu abraço a negativa que positivamente lhes é dado.
Talvez uma grande parte das vozes que cercam os meus ouvidos, não saibam o significado do belo e do desagradável.
É evidente que talvez não seja eu o tribunal, ou tenha o dever de o desabafar aqui, mas este assunto irrita-me!
Talvez o cinismo não seja parte das palavras que conheço, mas talvez lhes possa dar um número. Pessoas assim são números! Repugnantes! Zero!
Talvez não me encontre em estado de purificação, talvez seja eu o errado neste invólucro mundano, talvez a evolução humana não me esteja a acompanhar!
Um dia talvez quebre as regras, para sorrir mesmo na vontade de ser o mais sério e o mais carrancudo da minha rua! Talvez eu já não tenha rua! Talvez nunca tenha tido e só eu imagino coisas destas!
Talvez um dia eu consiga ser bom ator, seja alegre quando triste, ou seja triste quando alegre, ainda não o consigo fazer! O meu palco não é disforme, o meu teatro não é educado, o meu ser é na arte um homem nu sem folclore!
Talvez um dia corresponda aos modelos, hoje ainda não consigo e vou fazer força para nunca conseguir!


José Alberto Sá

Como ninguém

Como ninguém

Esse mar que vai e vem
Esse azul que vai e vem
É um abraço que tudo contém
É o azul que me convém

E eu, enrolado num cobertor
Sinto e penso em ti meu amor
Nesse mar que vai e vem
Nesse azul que vai e vem
Nesse abraço que amo e sinto
Nesse azul de um olhar, que em ti pinto

E eu de olhos serrados
Sinto as ondas que tu conténs
Beijo os lábios num mar de além
Nesse mar que vai e vem
Nesse azul que vai e vem

E eu, enrolado num cobertor
Sinto nas ondas a dor
Da saudade de alguém
Que amo como ninguém

Nesse mar que vai e vem
Nesse azul que vai e vem

És tu…


José Alberto Sá

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Arte

Arte

A arte é total…
E hoje de pincel, paleta e tela
Gritei tinta e atirei cores à toa
Sobre as bentas da ignorância
De qualquer ele, de qualquer ela
Que à arte não dá importância!

Vi no chão o negrume da teimosia
O escárnio espalhado
Tédio que se diluía
Na podre cólera, das mentes do outro lado!

A arte é total…
Em palavras, cores e muito mais
E hoje digo aos demais…
Que gritei de pincel, paleta e tela
Num poema colorido
Onde pintei com letras os artistas
Abrindo a eles em amor uma janela,
uma porta, por onde entraram
e viram sair
os outros de uma vida sem sentido!


José Alberto Sá

Troupe de palavras vivas


Dedicado aos amigos da Troupe de palavras vivas

Troupe de palavras vivas

T oques anunciam como Pancadas de Molière
R isos em partilha, momentos de glamour
O nda de paixão e poemas para quem quer
U ma troupe com saber e amor
P ureza em palavras de quem sabe
E de quem transpira cada cor, como homem  e mulher

D ádiva de um deus qualquer
E m comunhão com a arte de representar

P oemas e canções, momentos teatrais
A lma poeta vestida de candura
L amentos, choros, abraços e muito mais
A mor, carinho, beijos a quem os atura
V iva a troupe de palavras vivas
R azão pela qual eu estou presente
A tento a cada gesto, como se fossem cantigas
S abendo que eles são fruto de boa semente

V iva a troupe de palavras vivas
I magem plena de arte e devoção
V ozes em sintonia como palavras queridas
A ssim os vejo, assim os vemos, assim os temos em coração
S empre na verdade e na bondade sem medidas


José Alberto Sá

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Minha flor, Rosa

Minha flor, Rosa

Brava és minha roseira
Deitada no monte e na beira da estrada
Donzela rosada, por mim amada
Doce e lisonjeira
Rosa comigo de mão dada
Nunca por mim cortada
Brava e bela
Rosada e donzela
E por mim nunca deixada

És tu meu amor a quem escrevo
Palavras de verdade e de quem pensa
Que amar é tudo que devo
Pois foi Deus que me deu, esta flor imensa

Brava és minha roseira
Única e a primeira


José Alberto Sá

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Maria, meu colo

Maria, meu colo

Sabes malmequer, eu te quero
Eu te quero sem essa tristeza nos olhos
Se,essas lágrimas em mim tatuadas
Eu te quero sem sombra e desespero
Eu te quero... Eu te quero...
Como um malmequer a sorrir
Eu te quero enxugar o rosto e ver alegria
Eu te quero amar... Eu te quero amor
E que sejas flor, como quando eu oro
E peço a Deus, o colo de Maria
Eu te quero... Eu te quero... Levar nos braços
Ou de mãos dadas sem choro
E amar-te malmequer, porque te quero

José Alberto Sá.

E tu... És...

E tu… És…

O mundo é alto, é belo, é doce e perfeito
E tu… És nele a alfazema que aromatiza o amor
E tu… És nele o alecrim que nasce para amar
O mundo é alto, é imenso, é fragrância da mais bela flor
E tu… És nele a papoila que brilha com o sol
E tu… És nele a rosa que abraça o dia sem chorar
O mundo é alto, é azul, é verde e amarelo girassol
E tu… És nele a lágrima que sinto no rosto
E tu… És nele o beijo nos lábios carmim
O mundo é alto, é meu, é teu e é tudo contigo em mim
E tu… És nele a parte de um coração que bate
E tu… És nele a parte da minha vida e se assim não for!
O mundo alto, belo, doce e perfeito… Que me leve e mate!


José Alberto Sá

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

A vontade de um cérebro

A vontade de um cérebro

Não é pelo inocente que sinto perdido no monte mais alto, é pelo inocente que sinto abaixo do umbigo!
Somente quer viver para a loucura e amor, ao qual foi destinado.
O inocente invadiu o mundo! Gritam.
O inocente quer produzir! Sussurram.
O inocente é o sonho desde criança, vê-lo, senti-lo, tocá-lo, entregá-lo, receber, entreter, uni-lo, amá-lo, vesti-lo, desnudá-lo e muito mais…
E hoje é pelo inocente que sorrio. Sublinham alguns, se eu pudesse, se eu fosse capaz, quem me dera…
O inocente afigura-se o membro mais querido para mim, ele me faz sentir assim, homem!
Eu digo inocente, porque nada faz que eu não queira, ou que elas não queiram, ou queiram!
Digo inocente porque o mundo é de retas e curvas, de montes e vales, mares e desertos, e eu não consigo pensar sem que o sangue pulse, sem que o inocente queira a libertação, a liberdade de uma vida plena de amor.
Amor! É dessa beldade que falo e sinto!
Não é pelo inocente que sinto perdido o monte mais alto, é pelo inocente que sinto abaixo do umbigo!
Sou eu que ordeno! Ele é no ato a vontade de um cérebro!
Assim vivem os homens como eu.


José Alberto Sá

domingo, 9 de outubro de 2016

Para lá do amar

Para lá do amar

Foi numa casa sem janelas, onde ao canto se amontoavam as cinzas tristes e sem ilusão.
Foi numa casa sem porta, sem telhado, por onde a chuva caía e me julgava.
Foi dentro dessas paredes, onde o chão molhado se transformava em lama, em lágrima e frio.
Foi aí que o negro me vestiu e a opaca luz desse dia me vestia o corpo.
Foi nesse chão lamacento, que de olhos avermelhados olhei o céu e vi o arco-íris.
Foi lá de cima, que me chegou uma força, um íman capaz de me atrair e me levar para lá da mente.
Foi nesse céu sem fechadura, que me senti entrar… Curioso!
Foi lá, no transparente do amor que senti, que olhei para baixo e o chão continuava comigo!
Foi lá que eu entrei, naquele céu só meu e de tantos que quero abraçar, foi lá que me apeteceu estar.
Foi naquele amor sentido, que alguém me falou ao ouvido e disse: Entra, esta casa não tem janelas, não tem porta, não tem telhado, mas tem o amor que vive dentro de ti!
Foi numa casa sem janelas, por onde a luz entrou e eu hoje quis recordar.
Que existe alguém para lá do amar!


José Alberto Sá

Beijo de pedra

Beijo de pedra

Foi um beijo de pedra, aquele primeiro beijo e o segundo!
A tua boca recusou o acordo que fizeste com a minha.
As línguas não se tocaram e nada cresce à sombra do vazio.
Um homem e uma mulher nus e completamente vestidos com objetos inventados por ti!
Talvez medo, um medo teu e também meu, não quis magoar-te, não quis ser aquele que te beija desde a boca aos pés, sem que a nossa nudez seja estilizada, inventada e adocicada por nós.
Talvez no abraço e ao sentir a tua pele, me tenha dado de conta com a beleza ao extremo, à tua simetria, pureza, sensualidade… Talvez no abraço eu tenha exagerado e pedido tudo à nascença!
Foi um beijo de pedra, um beijo sem nexo e ao mesmo tempo primitivo, talvez por ser o primeiro e o segundo!
Foi um beijo de pedra, um beijo sem sexo e ao mesmo tempo apetecido por mim!
Depois dos beijos olhamo-nos nos olhos, as mãos deram-se, caminhamos nus, vi-te deixar fugir um sorriso, os teus seios estavam firmes e em cada passo desnudavas por entre as pernas o triângulo do amor, também ele despido!
Pedi-te um beijo mais e ofereceste-me todos e tantos mais, que ao acordar dei comigo abraçado ao travesseiro, na saudade que tenho dos beijos quentes na verdade que existiu!
Foi um beijo de pedra, sonhado na esperança de uns lábios e de uma boca real a meu lado!


José Alberto Sá

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Eu nada sei

Eu nada sei

Quando nasci, fizeram-me chorar! Mostraram-me logo ao nascer o lado triste do rosto! Claro que já não lembro, mas imagino as faces rosadas, humedecidas, ensanguentadas, pronto para a vida… Aqui estou!
Não me lembro dos meus sorrisos de bebé, mas vejo nos recém-nascidos, naquelas criaturas que ainda nada compreendem, o sorriso após uma carícia! Incrível! Quando nada conhecem da vida e já o sentimento, o amor e o carinho lhes salta da face!
Eu não nasci bom, nem mau, somente nasci!
Depois educaram-me e eu aprendi este meu lado da vida, ser na tentativa um bom homem! A vida é de tentativas, eu tento e por vezes sou feliz, outras… Melhor nada dizer!
E hoje, escavo infindavelmente o tesouro escondido que ninguém encontra!
Tenho saudades de um colo que não lembro! Saudades do Pai Natal! Saudades de brincar lá fora com os meninos!
Hoje, encontro-me com o miraculoso acidente do mundo, não lembro quando tudo era perfeito, mas sei que continuam na tentativa de estragar tudo!
Quando nasci, fizeram-me chorar! E só depois de adulto me chegaram as lágrimas da vida. Hoje eu sei que quando nasci nada sabia e sei também que hoje continuo recém-nascido, por nada saber!
Eu nasci para algo muito especial, chorar, sorrir e acima de tudo amar!
Mesmo nada sabendo de ontem, de hoje e de amanhã!
Sou eu, por um tempo sem saber, sou eu por ter nascido assim… Eu!


José Alberto Sá

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Amo para lá do sonho

Amo para lá do sonho

Falaram comigo os meninos e as meninas! O céu que tantos falam e não sentem, onde preenchem buracos negros, sabendo eu que é branca a beleza do seu fundo!
As nuvens que nos inundam de chuva, água precisa e que alguns não estimam!
O sol, esse imenso calor que me visita, que para alguns é somente utilizado para o bronze!
A lua, essa claridade ténue que me eleva à inspiração e que tantos se aproveitam para fazer mal durante a sua estadia!
O mar, esse menino de horizontes sonhadores, que me leva a sonhar, a imaginar tempos longínquos, em que milhares de anos atrás assim o viam e eu agora o olho na esperança, que outros depois de mim o sintam!
A areia plantada aos pés do mar, simbiose perfeita, que para muitos é somente a razão de uma toalha estendida!
As árvores que me fascinam, que nos aromatiza com fragrâncias de amor e leveza, que para muitos são somente plantas, flores e troncos a abater!
As estrelas, que durante a noite me piscam ao olhar, que me levam a sentir os entes queridos, que um dia partidos, hoje nelas vivem, o que para muitos são meros pontos luminosos e nada mais!
Os rios, esses corredores de fresquidão que ao mar levam a aventura percorrida, o que para muitos são o veículo para o transporte moribundo, da podre e egoísta maneira de ganhar a vida!
Os pássaros, esses meninos que me cantam baladas impossíveis copiar, que para muitos são penas que passam e sabem voar!
Os animais em geral, essas dádivas divinas que habitam um planeta que lhes foi dado e por mim respeitado, o que para alguns seres superiores, são animais a abater e esquecidos pela necessidade imunda da ganância!
O vento, esse enorme menino que sopra e ama tudo na sua passagem, não sabendo ele que para alguns é pura e simplesmente frio e nada mais!
A chuva, menina gaiteira, que ama de amor a vida dos que sorriem e choram… Esta menina que sinto e oiço, o que para outros é mais uma alteração meteorológica!
O Homem, este animal racional que sinto, vejo, cheiro, saboreio e oiço, este mesmo que tal como eu erra, tal como eu é testemunha da vida, que fala, grita, ri, chora… Estes que não compreendem a verdadeira razão da existência!
E tanta coisa mais!
E tudo para dizer: Que hoje olhei o meu silêncio, o escuro do meu quarto e tudo imagine, uma vida tranquila, um mundo perfeito.
Tudo porque para mim só existe uma razão para que tudo exista, tudo nasceu para ser poesia, os outros que assim não entendem… Não sonham, vivem unicamente para morrer e nada mais!
Amo viver para lá do sonho!


José Alberto Sá

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Sem utilidade

Sem utilidade

Vim até aqui, a esta problemática vida que me liga diretamente a todo o resto!
Aí está, entrei na casa dos factos, dos escândalos, do caos e de todo o resto!
Vim para aceitar corpos, que tal como eu deambulam por aí, e eu vim para ser mais um fragmento dessa bomba!
Serei retrato, busto talvez, símbolo quem sabe, ou serei num outro resto o nada que dou, o nada que tenho, o nada que sei, ou talvez o tudo que escrevo!
Vim até aqui, de membro fálico, sou homem, se viesse mulher, talvez viesse de vulva inquietante, ou como uma outra qualquer!
Sinto o mundo em promoção, quem compra? Quem dá mais? Sinto que alguns respondem, o poder, os outros são o resto tal como eu!
Talvez este resto onde me encontro seja a chave!
Serei a provocação imaginada numa escultura moderna, onde o sexo se torna o tema sugestivo… Uma escultura de latex ou plástico que se degrade facilmente com o tempo, que dê para derreter e se reciclar…
Vim para ser diferente, não me quiseram em monarquia e me impuseram a república, sinto nisto tudo a mesma realidade que os órgãos sexuais…
A problemática da vida, todos nascemos para sermos f… Aí está, vim para aceitar os corpos que tal como eu deambulam por aí.
Alguns pensam-se superiores e no fim… São reciclagem da vida, como uma estátua de órgãos de latex.
Eu penso assim na minha simplicidade e quem assim não pensa, é porque se misturam com os outros, esse resto sem órgãos sexuais mesmo que de latex!
Sem utilidade.


José Alberto Sá

terça-feira, 4 de outubro de 2016

O sol te imagina

O sol te imagina

Quando chove, vou à janela para imaginar uma donzela a dançar.
E dança, mas dança nua!
É no meio da rua que a vejo chapinar, é no meio da rua que a sua pele molhada esculpe o chão, ela está nua!
Quando chove, sinto o esculpir da carne pelo salpicar das gotículas, como se fosse pólen ao vento.
É pelo meio que imagino, é pelo meio dos sentidos, pelo meio dos gemidos que me encontro à janela.
Quando chove é ela, é a jovem menina de vestido de cetim, humedecido e transparente, que dançando de contente, olha para mim.
E os dedos ardentes descem a parede fria e tocam a minha pele, é quando chove e eu vou à janela imaginar!
No chão feito espelho, imagino o meu corpo diluído na chuva, rebolo, danço, salto… E os dedos apertados dançam e me fazem viajar quando chove… Lá fora há movimento, cá dentro há sentimento que se move!
Aceno-lhe de lenço branco e nesse adeus ela se vai, tal como se vai a chuva.
E eu fico a olhar o meu lenço, onde a cadência se fez terminar… O sol veio para ficar é a vida quando imagino uma donzela a dançar, num dia de chuva e um lenço a acenar. São movimentos que assinalam o prazer da imaginação, a chuva, a janela, eu, uma donzela e um forte pulsar de coração.


José Alberto Sá

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Quando eu canto!

Quando eu canto!

Uma vez mais a linha da vida me leva a cantar! No meu silêncio eu sei cantar!
Uma vez mais eu canto! Genuinamente sinto os meus lábios em palavras sonoras, em que a canção eleva os que me escutam, o meu silêncio sabe quem são!
Desde o berço que sei cantar em silêncio e sempre que fecho os olhos nasce mais uma canção!
É vocação que tenho dentro do meu consciente, é sensibilidade no meu lado esquerdo do peito! É técnica abstrata, em que só consigo definir o amor em cada sílaba que canto, quando abro o coração, os olhos e sinto a realidade! Eu sei cantar em silêncio!
Em silêncio afasto-me da terra e consigo voar, pois sou possuidor de um mundo só meu e dos outros que não sabem cantar em silêncio!
Canto facilmente nas areias do mar, canto poeticamente e honradamente o que sou!
Sou aquele que sabe cantar em silêncio, naquele silêncio que me grita aos ouvidos e me acorda para um mundo sem canções!
É vasto o mundo que me rodeia o pensamento, é crepitação constante em cada nota musical, é melodiosa a verdade deste meu coração, é pura a canção que dentro de mim, sai para vós… Em silêncio gritante!
Eu sei cantar para todos… Sozinho em silêncio!


José Alberto Sá

domingo, 2 de outubro de 2016

Saber pintar

Saber pintar

A aguarela se espraia, a água escorre, a cor se dilui e o papel humedece.
Encontro assim alguns artistas, alguns que se espraiam deslavados, que transpiram coisas pelo corpo, que se dividem em possibilidades e se mostram frágeis.
Tantos correm até à meta e não chegam!
Tantos sorriem até ao gargalhar e se escondem desta forma, de um medo que eles próprios criaram.
Tantos choram e nada surge!
A aguarela se espraia e o quadro se mantem vazio, são simples os traços, pequenos esboços de mentes perdidas.
A água escorre e a fonte faz crescer o caudal, de palavras como pinceladas sem rumo, nem o mar quererá receber esta corrente de água putrefacta.
A cor se dilui e o arco-íris reage ao poema, ao poeta, ao pintor de palavras, ao quadro que se humedece com receio de se rasgar.
A aguarela é a dor ou o amor, basta sentir a rima e fazer a escolha, o quadro é o que imaginamos e sentimos.
Na hipocrisia do mundo, os barcos navegam em telas de mar, sem água, sem remos, sem amor para caminhar e outros barcos navegam em aguarelas por conquistar!
O valor de um quadro, não é o tempo que demorou, nem o custo material, o valor do quadro é o amor nele contido e eterno ao olhar.
A aguarela se espraia num mundo de ilusão, barcos á deriva como pulsares de um coração.


José Alberto Sá

sábado, 1 de outubro de 2016

Respeito-me

Respeito-me

Respeito-me a mim próprio! Tenho uma coleção imensa que se debate com a exatidão de tudo que penso e me sucede.
Respeito também os outros géneros, as outras tendências e até as outras coisas que não existem na minha consideração.
Não esqueço, nem ignoro a luta dos que não mudam ou mudam sem saber para onde!
Respeito o meu ser simples, por saber que não está ao alcance de todos!
Respeito esta minha terrível meta, a simplicidade, onde por vezes aos meus olhos, os homens sentem, calvário, teimosia, sacrifício, por não abdicarem daquilo que não desejam, mas fazem!
Respeito tudo e todos, até o amor que lhes tenho!
A simplicidade não se obtém, nasce connosco, tal como as palavras ditas, que não se enfeitam da poesia, elas já são completas na sua simplicidade, é só amarmos e dar-lhe o amor como significado.
Respeito os que tentam a humildade e somente exprimem ingenuidade.
Não é compaixão! É respeito que sinto por todos, e isto que digo é a paixão pela minha verdade.
Respeito-me a mim próprio e me vejo glorificado na terra, me vejo completo na paz, me vejo uma vantagem sem medo de falar, respeito o amor que dou e recebo.
Respeito o mundo, como respeito as areias do mar, que deslumbra estes meus olhos, que vos ama.
Só preciso de respeito, a gente precisa de respeito e os amigos que chegam e abraçam, são caravelas de um mar de amor.
Respeito tudo e todos, e os outros que não sabem… Navegar!


José Alberto Sá