Simples
nascer do êxtase.
Nasceu
o êxtase quando vi a donzela virgem amarrada num laço de cetim.
Rendas…
As rendas torneavam-lhe o corpo aos olhos dos que gritavam babados!… Gritos de
quem queria um pouco de pele…
Os
braços bracejavam em chamamentos loucos… Nasceu o êxtase aos olhos de mim.
A
praxe ou o castigo ofereci ao meu coração, senti na garganta o pulsar, boca
seca.
Tremia
de tesoura na mão… Um laço de cetim, pele sedosa, menina vaidosa, nascida para
amar, queria ser eu a cortar!
Queria!
Queria tanto cortar o laço, eu gritava… Os outros também gritavam…
Balburdia
num recanto de mar, onde a donzela num barco á vela acabava de chegar.
Queria
eu ser o primeiro, amo a arte, o corpo… O amor.
Empurrões
e palavrões saíam por entre gargantas famintas… Um corpo deslumbrante, sorriso
triunfante e os olhos rebentavam ansiosos derretidos pela vertigem…
Suores,
respiração ofegante… Descia a virgem.
E
eu, novamente gritei o nome, quis passar na frente e desejei que ela me
olhasse.
Todos!
Todos
correram pela areia da minha praia, todos quiseram tocar a menina que descia
sem saia… Todos! Menos eu, que fiquei paralisado!
Só…
Só eu e a areia fina. Todos quiseram ver a virgem de perto, tocar-lhe, levá-la
se possível.
Fechei
os olhos e me ajoelhei, estava triste sem forças, sem vontade de me erguer.
Sussurros
de um mar feminino perguntaram - Quem és tu?
Respondi
- Sou aquele que de tesoura na mão, quis cortar as rendas e sentir um corpo nu.
Sou aquele que desejou sentir um coração transparente, como as rendas e um
pulsar vermelho igual ao laço de cetim.
Uma
voz doce de maresia perfumou-me - Levanta-te, o coração é o teu viver, as
rendas são parte de uma vida transparente, o vermelho do meu laço são a cor do
teu abraço e o cetim são texturas puras que te querem por seres assim.
Olhei
para cima e me ergui… A donzela deixou cair as rendas, a minha tesoura tinha
cortado o laço vermelho de cetim… Virgem diante dos outros era agora uma flor
em meu jardim.
Nasceu
o êxtase, a donzela veio! E na louca corrida, venceu o amor diferente dos
outros… Eu…
Nascido
em êxtase, crescido em amor, quis falar de uma virgem que vive para os outros
como vive para mim… Fui escolhido para que o amor não tenha fim.
Gritem,
amem, mas não se atropelem… Não sereis vistos na multidão, o amor aparece
nascido em êxtase. Simples, harmonioso e belo… Basta sentir o mundo diferente
aos olhos dos que gritam obcecados.
José
Alberto Sá