Flor poesia
Sou raiz que se sente
submersa
pela incapacidade terrena…
Onde só o amor vale apena.
O sufoco da terra que me
arrasa,
o tempo que nas horas não se
atrasa…
O tempo passa…
E eu preciso submergir
Sentir o rasgar da terra pelo
arado
Com os seus dentes aguados,
nas entranhas de um deus
louvado
Sou raiz de uma vontade
obsessiva,
o querer olhar a luz de um
sol que desejo…
Desejo que me cativa
Na terra…
No ar…
Preciso me soltar do pó,
preciso da chuva ao relento…
Do vento…
Do momento…
Sou raiz pronta a correr…
Quero na minha vontade,
deixar florir uma flor
Sou raiz… Sou amor…
Deixem-me nascer e abandonar
a terra imunda…
Sou capaz de abraçar com o
meu fruto
O néctar de uma raiz que ama
a luz do dia,
o luar de uma lua iluminada…
A minha ambição
Serei o reflexo que imagino
nos espelhos de água…
Água pura, tão pura como o
beijo apaixonado
O beijo dado pela abelha na
sucção do pólen,
à mais bela flor…
Quero ser, ser flor lá fora…
Lá onde os pássaros cantam,
onde o vento assobia e a luz
se faz presente
Mas sou raiz somente…
Somente na espera de algo
mais… Preciso sair
Preciso me soltar das amarras
deste involucro,
a terra que me irá enterrar
Sou a vida de uma raiz… Que
quer nascer…
Crescer… Florir… Sorrir…
Sorrir pela boca rasgada,
lábios de vermelho carmim…
Ser flor de todo o jardim
E no dia que desaparecer…
Quero ser raiz novamente, a
raiz das palavras cultivadas
Por mim
Ser flor… Ser a noite… Ser o
dia
Ser o mar… Ser a serra…
Mas preciso de vós… Vós em
alegria
Deixem-me dançar por cima da
terra…
E serei flor… Flor chamada… Flor
amada…
Poesia… Poesia… Poesia…
José Alberto Sá