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sexta-feira, 17 de março de 2017

Uma pequena flor

Uma pequena flor

Achei-me em louca importância no agarrar do cabo, do meu chapéu-de-chuva.
E ouvi a dona cair sobre o pano preto, gota a gota rumo à indiferença que existia no chão, pois o importante era muito mais além.
Os meus sapatos brilhavam molhados, as meias de tecido azul acariciavam os meus pés, que saboreavam a humidade que também os invadia.
Pelas costas sentia o bater do vento, também ele arrastava gota a gota a transparência de um céu que chorava e tudo me entrava na pele fria.
Perdi-me sem importância no agarrar do cabo e a gravata sentiu-se irrequieta como num aviso de que deveria acelerar o passo.
A cara humedecida levava consigo um sorriso, numa das mãos um ramo de flores e agora, um passo mais apressado.
Em cada passo a chuva era mais forte, sentia o escorrer da água pela coluna, o meu chapéu-de-chuva partira-se antes da chegada, que era muito mais além.
Continuei… Até que estendi a mão e toquei à campainha, uma porta se abriu, um rosto sorriu, um beijo que ninguém viu… Entrei e ofereci dizendo: Estas flores são para ti meu amor, não há tempo que me impeça de ser eu, nem o mar, nem a terra, nem o céu… Nem o sol no seu raiar, nem a chuva em mim a cair, nem o vento me fazem recuar, nada me impede de contigo sorrir.
As flores húmidas estavam felizes, uma outra flor sentia agora a humidade e eu despido sentia a evaporação… Fizemos amor!
A vida não impede o amor, pois tudo se resume ao gesto, ao sentido, ao querer, como quer a vida uma pequena flor ou um pulsar de coração.


José Alberto Sá

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