Uma pequena flor
Achei-me em louca
importância no agarrar do cabo, do meu chapéu-de-chuva.
E ouvi a dona cair
sobre o pano preto, gota a gota rumo à indiferença que existia no chão, pois o
importante era muito mais além.
Os meus sapatos brilhavam
molhados, as meias de tecido azul acariciavam os meus pés, que saboreavam a
humidade que também os invadia.
Pelas costas sentia o
bater do vento, também ele arrastava gota a gota a transparência de um céu que
chorava e tudo me entrava na pele fria.
Perdi-me sem
importância no agarrar do cabo e a gravata sentiu-se irrequieta como num aviso
de que deveria acelerar o passo.
A cara humedecida levava
consigo um sorriso, numa das mãos um ramo de flores e agora, um passo mais
apressado.
Em cada passo a chuva era
mais forte, sentia o escorrer da água pela coluna, o meu chapéu-de-chuva partira-se
antes da chegada, que era muito mais além.
Continuei… Até que
estendi a mão e toquei à campainha, uma porta se abriu, um rosto sorriu, um
beijo que ninguém viu… Entrei e ofereci dizendo: Estas flores são para ti meu
amor, não há tempo que me impeça de ser eu, nem o mar, nem a terra, nem o céu…
Nem o sol no seu raiar, nem a chuva em mim a cair, nem o vento me fazem recuar,
nada me impede de contigo sorrir.
As flores húmidas estavam
felizes, uma outra flor sentia agora a humidade e eu despido sentia a evaporação…
Fizemos amor!
A vida não impede o
amor, pois tudo se resume ao gesto, ao sentido, ao querer, como quer a vida uma
pequena flor ou um pulsar de coração.
José Alberto Sá
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