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domingo, 26 de março de 2017

Uma mesa ao centro

Uma mesa ao centro

Lembras-te?
A sala estava vazia e na mesa ao centro, somente existia a distância e a frieza entre o teu e o meu olhar. Estavas sentada num dos cantos a olhar para mim, eu sentia e sabia que fazias uma breve leitura do meu corpo nu, com esses teus lábios quietos, que me inquietavam.
Somente a mesa nos separava, eu sentia tal como tu o frio do chão, o frio da parede e o frio do teu coração!
Lembras-te?
Os meus olhos sentiam-se no impossível, no mais triste sentir, também te lia com estes meus lábios entreabertos.
Era impossível não ter as mãos húmidas, trémulas, pois a tua subtileza fazia-me transpirar pela ansiedade de te abraçar.
Via que o teu coração pulsava, sentia-o querer rebentar um dos teus peitos, estavas nua, também tu sentias o frio do chão, a humidade da parede e a tua sede.
Lembras-te?
Por baixo da mesa nos observamos, o silêncio somente era perturbado pelo gritar do nosso olhar. Tu querias… Eu queria… E na verdade ambos desejávamos o mesmo…
A sala estava vazia, tu a um canto, eu noutro e a mesa ao centro.
Lembras-te? Fui eu quem vergou!
Desculpa por exagerar na minha vontade, mas eu já não aguentava mais aquela distância… Pedi que me abraçasses, lembras-te? Pedi que comigo fizesses daquela sala, um jardim colorido.
A sala continuou vazia, mas o frio passou! A mesa ao centro se ocupou com um jardim colorido, nos perdoamos, nos abraçamos, nos beijamos com tanta clareza, que fizemos amor em cima da mesa!


José Alberto Sá

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