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quarta-feira, 17 de junho de 2015

Eu vivo

Eu vivo

O chão não caminha!
E nele assisto ao fenómeno do tempo,
que nu me convida sem saber se vou.
Talvez vá, talvez irei…
Talvez, ainda não sei!
Pois é este o caminho que me faz existir,
limitando-me a um despertar de admiração
ou a um inconsciente gosto de olhar o chão,
que não caminha!

O corpo ondula,
os pés serpenteiam no alcatrão,
a terra se rompe, a areia se mistura,
o pó se evapora e sol, que alimenta a natura…
Se faz ao chão e tudo ilumina, tudo devora…
O corpo ondula na sombra,
as mãos tocam, os lábios beijam…
O sol ilumina e fertiliza o chão que não caminha!
E as sombras dançam…

Pela graça sinto-me artista,
completo-me neste mesmo chão
e quero que o meu retrato não mude de direcção,
que viva,
que ande,
que corra…
E o chão que não caminhe
ou que somente me veja caminhar…
Como se eu fosse um objecto,
que se faz de pó, de terra,
de matéria,
mas eu… Neste chão sem alegria!
Sou caminho que vive e anda,
num chão que não caminha…
Que me faz ser amor, ser sentimento…
Ser poesia…


José Alberto Sá

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