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domingo, 8 de março de 2015

Assim se escreve amor

Assim se escreve amor

Escrevo com o graveto numa areia molhada, o brilho fascina cada grão e eu rasgo, como quem abre fissuras sem medo.
Escrevo desde miúdo na mesma praia, naquela praia cheia de amor, naquela que existe no meu olhar, onde cravo o graveto de uma íris de verde sentir…
Pela noite somente oiço o rasgar arrepiante do graveto, em cada pedra minúscula que devoro e separo do chão.
Escrevo pela agonia até que nasça o dia, até que adormeça o graveto na minha mão.
A enxada cava a terra numa simulação quase perfeita, quase a alma gémea do rasgar de areia fina, quando lhe cravo o graveto.
Pela manhã a maresia do sonho se faz ao mar, levanto-me e a única vontade é olhar o graveto… Belisco! Está vivo… Eu sinto.
Escrevo por saber usá-lo, por lhe querer pegar, por amar o estalo que dou na estucada de amor, numa areia fina e faminta pelo meu graveto…
A areia continua molhada… Sal! O sabor agridoce que me chega aos lábios, aromas de uma separação entre mim e meu graveto… Lados opostos.
Escrevo sobre a minha praia… O amor que tenho por ela e nela se faz a felicidade de uma parte de mim… Meu graveto se faz passear, deixando na profundeza um pouco deste que desde miúdo ama… Escrevo com o meu graveto sonhos que realizo, imagino não lhe dar descanso, ele sempre me acompanha… Escrevo mesmo ao frio, na geada, na sentinela da noite ou no calor do sol… Escrevo como quem dança… E em cada página deste mar… Sinto-me naufragar dentro de ti… Dentro de ti, é onde amo escrever com o meu graveto! E deixar que a magia aconteça… Que aconteça… Aconteça… O amor.


José Alberto Sá

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