Assim
se escreve amor
Escrevo
com o graveto numa areia molhada, o brilho fascina cada grão e eu rasgo, como
quem abre fissuras sem medo.
Escrevo
desde miúdo na mesma praia, naquela praia cheia de amor, naquela que existe no
meu olhar, onde cravo o graveto de uma íris de verde sentir…
Pela
noite somente oiço o rasgar arrepiante do graveto, em cada pedra minúscula que
devoro e separo do chão.
Escrevo
pela agonia até que nasça o dia, até que adormeça o graveto na minha mão.
A
enxada cava a terra numa simulação quase perfeita, quase a alma gémea do rasgar
de areia fina, quando lhe cravo o graveto.
Pela
manhã a maresia do sonho se faz ao mar, levanto-me e a única vontade é olhar o
graveto… Belisco! Está vivo… Eu sinto.
Escrevo
por saber usá-lo, por lhe querer pegar, por amar o estalo que dou na estucada
de amor, numa areia fina e faminta pelo meu graveto…
A
areia continua molhada… Sal! O sabor agridoce que me chega aos lábios, aromas
de uma separação entre mim e meu graveto… Lados opostos.
Escrevo
sobre a minha praia… O amor que tenho por ela e nela se faz a felicidade de uma
parte de mim… Meu graveto se faz passear, deixando na profundeza um pouco deste
que desde miúdo ama… Escrevo com o meu graveto sonhos que realizo, imagino não
lhe dar descanso, ele sempre me acompanha… Escrevo mesmo ao frio, na geada, na
sentinela da noite ou no calor do sol… Escrevo como quem dança… E em cada
página deste mar… Sinto-me naufragar dentro de ti… Dentro de ti, é onde amo
escrever com o meu graveto! E deixar que a magia aconteça… Que aconteça…
Aconteça… O amor.
José
Alberto Sá
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