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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Todo o tempo do mundo

Todo o tempo do mundo

É meia-noite…
Ouvi a voz que chama, um som que soberbamente me leva… Sempre me leva.
O relógio do meu pulso me avisava em cima da mesinha… É meia-noite.
As meias ficaram junto dos sapatos, são inseparáveis! Como inseparável é o amor que levo, quando me chamas…
A gravata fazia-se notar por cima da camisa, os botões ressaltavam aos olhos pela sua cor de ouro… Ressaltavam como ressaltam os meus quando tu me chamas… Amo olhar-te semidespida.
Ainda segurava as calças, que bem devagar as puxava para baixo, não tirava os olhos dela… Desapertava o fecho, ouvia-se os dentes arranharem… Depois uma perna, outra perna… Amo a mistura de pernas, depois de um arranhar suave de fechos que gosto de abrir…
As horas passavam… Olhei o relógio… Sorri… Os ponteiros contavam… Tic.tac…
As batidas se ouviam… Tal como a respiração se ouvia… Os olhos brilhavam nas batidas como se sentissem as palmadas da máquina, no seu interior. Palmadas… São batidas tão suaves que dentro do meu relógio é amor nas horas de o fazer…
Depois de despido… Olhei novamente para ela… Seminua!
Ao de leve subi através do édredon… Uma mão, outra mão, até tocar o corpo quente e macio…
A voz me chamou novamente… A voz que chama… A voz daquela menina que me leva a despir… Porque a amo despir também… Beijei desde os dedos dos pés… A nuca seria para o derradeiro e soberbo desfecho de um único beijo… Longo…
Subi… Subi… Devagar… Tinha tempo e o relógio em cima da mesinha não parava…
Beijei até encontrar uma peça de roupa vermelha, com rendas e folhos… Aromas de regalar os olhos… Beijei e tirei… Tirei e me embriaguei…
Sei apertar os lábios por entre beijos e um pedaço de cetim aveludado, com aquele cheiro que me faz esquecer onde estou… E o amor foi o que aconteceu… Aconteceu… Aconteceu… Aconteceu tanta coisa…
Olhei o relógio… Meus Deus… É meia-noite!
Desculpem o tempo que passou, não sei contar quando amo de verdade… E amar de verdade é eternamente… Tic-tac… A voz que chama, que pulsa e faz pulsar o meu coração… Ela… A minha menina do amor. O relógio está em cima da mesinha…


José Alberto Sá

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