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segunda-feira, 24 de novembro de 2025

 Na esquina da vida

 

Esquecida no canto ou na esquina da rua,

ela repousa como quem espera, a pressa da vida.

A pele marcada, é sol em desespero, é saudade do que não quer…

os olhos perdidos, são lembranças das lágrimas que ninguém vê.

Ao redor, o mundo corre, buzinas, passos apressados,

vozes que não a incomodam ou lhe são familiares… não lhe tocam.

Mas ali, naquele canto, há silêncio no passar da gente e barulho num pensar inquieto.

Há história.

Há vida que insiste em não se apagar, pele que precisa de afagos e uma angústia pesada, que procura alimentar o medo.

O vestido desbotado guarda os traços de dias melhores, por vezes roupa que atrai o chão onde se senta.

Esquecida, já conhece o peso da sua ausência em casa, talvez mais tarde, se a exigência a provocar a uma montanha de nojo.

Já nada exige!

Apenas existe!

A esquina sabe seu nome, calor, frio, chuva e malmequeres sem cheiro, é assim que se vive nas paredes amareladas e tristes.

E quem passa, desvia o olhar.

Não por maldade, mas por medo de enxergar o que também poderia ser, se a candura do sol nascesse turva e o nevoeiro da vida provocasse.

Esquecida, ou uma figura imóvel, frágil, mas, humana, o abandono que mora nas esquinas da alma.

Esquecida no canto da rua, ela é poema sem papel, sem voz… memória sem nome, sem chão, num chão de injustiça.

 

José Alberto Sá

Portugal

24-11-2025

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