Na esquina da vida
Esquecida no canto ou na esquina da
rua,
ela repousa como quem espera, a
pressa da vida.
A pele marcada, é sol em desespero, é
saudade do que não quer…
os olhos perdidos, são lembranças das
lágrimas que ninguém vê.
Ao redor, o mundo corre, buzinas,
passos apressados,
vozes que não a incomodam ou lhe são
familiares… não lhe tocam.
Mas ali, naquele canto, há silêncio
no passar da gente e barulho num pensar inquieto.
Há história.
Há vida que insiste em não se apagar,
pele que precisa de afagos e uma angústia pesada, que procura alimentar o medo.
O vestido desbotado guarda os traços
de dias melhores, por vezes roupa que atrai o chão onde se senta.
Esquecida, já conhece o peso da sua
ausência em casa, talvez mais tarde, se a exigência a provocar a uma montanha
de nojo.
Já nada exige!
Apenas existe!
A esquina sabe seu nome, calor, frio,
chuva e malmequeres sem cheiro, é assim que se vive nas paredes amareladas e
tristes.
E quem passa, desvia o olhar.
Não por maldade, mas por medo de enxergar
o que também poderia ser, se a candura do sol nascesse turva e o nevoeiro da
vida provocasse.
Esquecida, ou uma figura imóvel, frágil,
mas, humana, o abandono que mora nas esquinas da alma.
Esquecida no canto da rua, ela é
poema sem papel, sem voz… memória sem nome, sem chão, num chão de injustiça.
José Alberto Sá
Portugal

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