Um sonho de criança
“Interdito a maiores de
dezoito anos”
Estava escrito numa
velha tábua, por cima de uma porta, que fechada, nada deixava ver…
Morri de curiosidade,
queria ver, sentir cada mistério que do outro lado, me fazia ferver a cabeça.
Queria bater à porta,
talvez me deixassem entrar, talvez lá dentro nada fosse importante, talvez esteja
cheio, talvez vazio, talvez seja eu o único a querer lá ir.
Continuava a morrer de
curiosidade, sei que sou já velho, mas… Talvez me deixassem tomar um copo,
talvez estejam a fazer muito barulho, talvez o silêncio impere, talvez esteja
fechado e não abra, ou talvez abra para alguém sair.
Estava curioso “Interdito
a maiores de dezoito anos”, talvez seja um bar gay, ou lá dentro estejam somente
mulheres de alterne, talvez seja unissexo, talvez um bar de jogo, talvez uma
casa de coisas proibidas… Talvez!
Nunca tinha passado
naquela rua, não tinha ouvido falar daquela casa e hoje quase morro de
curiosidade!
Coragem… Pedi a mim
mesmo, coragem… Talvez batesse e me abrissem a porta, talvez me convidassem a
entrar com todo o respeito, talvez abrissem e me agredissem, talvez me
dissessem que era velho, talvez me levassem e não me deixassem sair, talvez eu
não esteja bem vestido, talvez o dinheiro que tenho não chegue, talvez só
tenham bebidas alcoólicas e eu só bebo sumo!
Coragem… A porta
estava mesmo ali, era verde, uma maçaneta de metal do formato de uma mão
fechada, uma fechadura moderna, um postigo na parte de cima e uma soleira de
mármore… Pormenores que eu via cá fora, lá dentro era o que me fazia morrer de
curiosidade!
Estava com medo,
talvez me fosse embora sem bater, talvez bata só para olhar para dentro, talvez
com sorte alguém saia e eu veja o interior, talvez tenha cortinas para lá da
porta e nada possa ver, talvez…
Quase morria! A porta
abriu, uma menina saiu, fiquei a imaginar, tinha razão, talvez estejam mais
meninas lá dentro, talvez eu entre com ela, talvez ela me pergunte alguma
coisa, talvez eu tenha coragem e lhe pergunte eu!
Ela olhou para mim e
sorriu. Olhei para ela e apontei a tábua onde dizia: “Interdito a maiores de
dezoito anos”, ela sorriu novamente, abriu a porta e mandou-me entrar!
Meu Deus! Desci um
degrau, outro e outro, mandaram-me tirar os sapatos e as meias, o chão era de
veludo preto, caminhei descalço até a um balcão, passei por entre anjos femininos
e masculinos, mulheres de sonho traziam uma bacia com água, mandaram-me sentar,
para que lavasse os pés, coloquei os pés lá dentro e senti a água fria subir
por mim acima… Acordei, acendi a luz e…! Eu estava no meu quarto, com os pés no
bacio e urina até aos calcanhares!
Isto sim… Interdito
para maiores de dezoito anos!
José Alberto Sá
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