Quero ficar
Ainda é cedo para lá chegar…
E o destino já está marcado
Sinto nos passos, os pés que
marcam a estrada cinza…
Alcatrão
Mas ainda é cedo… As horas me
dirão a cor dos meus cabelos
Como me dirão as rugas… Que o
tempo rasgou na pele seca de um marcado
Ainda é cedo para lá chegar… Trémulas
ou vibrantes, levo as minhas mãos
Que abraçam…
Que chamam…
Que apertam…
Alguém me diz: Ainda é cedo
para desenlear os novelos de uma tosquia
Onde a lã de ovelha… São
nuvens que passaram pela tesoura que me corta
Corta-me a vida, como corta o
frio, a pele seca dos mendigos durante a noite, durante o dia
Ainda é cedo para correr…
Dizem eles, que ainda existe esperança
Mas ainda é cedo… Cedo!
Porra… Cedo e eu quase tropeço no medo
Cedo? Porra… Quero mais depressa…
Quero chegar… Mas quero chegar tarde
Ainda sou novo…
É cedo, falo baixinho… Não vá
alguém ouvir e me levar
Não tenho pressa de chegar…
Ainda é cedo…
Tão cedo que me lembro dos
pobres indefesos
Levo a trémula mão ao bolso…
Uma moeda! Mas já é tarde para lhe dar
Os cabelos brancos… Iriam
ficar como os dele… Indefesa criatura…
Teve pressa
Pressa ou medo de se enlear
nos novelos da vida… Lã das ovelhas tosquiadas
Ainda é cedo e a roupa não me
serve… A nudez me faz ser rico
Na rua… Na vida com pressa… A
roupa é pobre… Rôta… Gasta
Os olhos miram o vazio de uma
pressão desonesta… E ainda é cedo
Para que eu parta sem dizer à
mente farta… Pulhas… Faúlhas…
Gente putrefacta
Poder que nos empurra à
pressa… Mas… Ainda é cedo… Eu quero ficar
… Aqui… Um pouco mais…E
depois sim… Irei… Sem medo,
porque ainda é cedo…
José Alberto Sá
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