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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Poesia selvagem

Poesia selvagem

E não sou um selvagem,
um bicho perdido na densa floresta
Não sou a poluída vegetação de uma vida nómada,
perdido nas mudanças que um ser errante

Ser sem imagem…
Ser que não presta…
Ser gritante…

Eu não sou o animal que se baba pela cegueira de ti,
por entre arbustos de intrigantes espinhos.
E não sou o peganhoso ser das profundezas,
de um oceano que não me aceita

Ser que não sorri…
Ser sem certezas…
Ser que a vontade rejeita…

Eu não sou aquela ave de bico com dentes,
que voam os céus em chamas
Eu não sou um abutre em carne putrefacta,
comendo o suco da saliva envenenada

Ser nascido de mil sementes
Ser que se maltrata
Ser que ama o nada

Eu não sou… Esse horrível ser que vos povoa
Seria um deus menor… Pior que o demo
Eu não sou… Pois teria uma imensidão de pecadoras famintas
Que me acompanhariam pelo meu mundo sem amor

Ser sem alma… Nem má, nem boa
Ser de corpo frio… Se tremo
Ser sem sentimento, sem dor

Eu não sou…
Se fosse…
Não estaria aqui na minha alegria
Não declamaria
Não sorria
Eu sou quem sou…
Sou sim, um animal que ama a poesia


José Alberto Sá

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