Noite
e dia
Desbravo
a terra virgem com espontaneidade lírica, numa melodia que me leva a toques
quase musicais… Teu corpo, meu fado, guitarra que grita nos acordes do meu…
Porque…
À
noite imagino-te melodia… De dia, te levo cantando
E
te sinto a canção onde me aventuro, te sinto a árvore de frutos cremosos e de
rebelde sabor, sonho-te princesa do meu fado… Sonho-te mulher de caprichos
surreais, onde os desejos são imortais… Porque…
À
noite imagino-te fruta madura… De dia, te levo na minha procura
Desbravo
a terra virgem com claves de sol, procuro nas notas musicais, a mulher desejada
numa floresta lendária, onde a canção é perfume sensual, carregado de humidade
e sons perenes que quero levar eternamente… Porque…
À
noite imagino-te saudade… De dia, te levo na verdade
E
te sinto flor virgem de um primeiro amante, malmequer desflorado, flor íntima, Orquídea
de mel e cor purpura, onde sobressai o estame agressivo e erótico, doce e
eréctil… Porque…
À
noite te imagino minha fada… De dia, te levo de mão dada
Desbravo
em tudo que sinto… E sinto cada local onde o dedo toca, o estremecer a quem
chamo de pérola, a saliência que me faz sofrer… Porque…
À
noite te imagino nua… De dia, te levo não esquecendo a lua
E
o amor me leva a beijar… Amo beijar os campos e os prados, amo beijar o
invulgar, o cálice por onde quero beber, esse recipiente que me leva a dançar
em movimentos de contracção.
Porque…
À
noite te imagino simplesmente… De dia, te levo no desejo somente
Desbravo
o quer, o belo sítio onde o eco são as palavras que digo, são simples sussurros
sem nexo, gemidos que se perdem no achado de ti, uma paixão violenta onde me
perco nas fronteiras, que quero desbravar… Porque…
À
noite te imagino minha… De dia, te levo nos arrepios da espinha
Então
me confesso ser, uma canção, uma balada, um ritual… Imagino-te na minha confissão
do amor, te levo no esmagar de suspiros, de loucos transes e reviro-me de olhos
saciados por algo perfeito… Porque…
À
noite te imagino flor… De dia te tenho, amor
José
Alberto Sá
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