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quarta-feira, 23 de abril de 2014

Porque te vejo assim? Meu amigo!

Porque te vejo assim? Meu amigo!

Carrancudo… Cabelos eriçados, olhos remelentos… Assim te vejo neste dia.
Olá… Amigo…
E as tuas calças rompidas que se misturam com as nódoas da camisa… Assim sinto este dia…
Olá… Amigo…
E não adianta fugir, sinto nos teus pés descalços a passagem entre a dor e a lama… És tu hoje, no meu olhar
Só caprichaste na orelha, colocaste um brinco novo… Que hoje realça o teu sorriso… Quase fiquei feliz… És rebelde…

Porque te vejo assim? Meu amigo!
Assim nessa tua voz rouca… Por onde o álcool se faz notar por entre os olhos vermelhos… E a droga se cheira no ar que não quero sentir…

Olá… Poeta…
Sou sim… Um rebelde carrancudo… Que acorda triste... Sem amor.
Sou sim… O rapaz de cabelos eriçados… Que acorda sem ter banho… Sempre sem amor
Sou sim… O olhar pobre remelento, de um frio sem vontade… E sem amor.
Sou sim… O despido e rasgado pedinte desta desilusão… A vida sem amor.

Sou sim… A nódoa da minha cidade, a nódoa arremessada, pelos que não sabem, o que é ter pés descalços… E viver sem amor.
Sou sim… A lama que nunca quis pisar, que nunca pedi para calçar… olha-me? Vez em mim algum amor?

Sou sim… O brilho que trago na orelha, a única lembrança que me resta de minha mãe… O meu pai nem sei… Talvez tenha sido o que herdei…
Hoje coloquei o brinco que o amor me deixou… Hoje este carrancudo se vestiu de brio… Minha mãe… O amor e a saudade…

Poeta!
Não sei ser como tu… Somente sei ser teu amigo…
Hoje senti amor… Há muito que não me falavam… Já não me olhavam…
E tu… Tu poeta… Apertaste-me a mão!

Sou sim… Este pobre, que se sente rico por ser teu amigo.
Vales pela amizade, como vale o amor de um naco de pão
Sou sim a continuidade da minha aventura… Obrigado poeta, por me olhares… Sou sim…
Como tu… Humano!

Dedico este poema:

Aos meus amigos, a quem a sorte não sorriu.
Têm o meu abraço, a minha amizade… Todo o meu amor…

Sou sim… A impotência…


José Alberto Sá

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