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terça-feira, 10 de setembro de 2013

Vivo cada palavra

Vivo cada palavra

Grito às palavras violentas
O sino toca no tilintar da garganta
Sinto a queda nas palavras nojentas
Gritos entre linhas,
com voz de quem não canta
Cantigas sem notas, na linha deitada…
Sem manta

A manta onde não me deito, sem pêlo
Na aspereza do ser cansado, por ter gritado
Sinto-me o fósforo queimado
Quando semeio palavras de olhos fechados
O escuro dos gritos abafados
E tudo é irresistível ao vazio… Nem vê-lo

Nem vê-lo, nem tê-lo
Um novelo de lã que desfio
São as palavras ditas sem forma
Palavras que me toma
Como se o verão fosse frio

Frio escaldante… É neve, é gelo
É grito da boca que se desfaz, ácida
É greta de Vénus despida sem sol
É escrita maldita erótica sem mal
É vê-lo, é tê-lo
Pó de acácia

Sufoco das linhas poeirentas
Da flor em desmaio… Fecundação
Eu grito… Ninguém me impede
Grito…
Bailo nas famintas palavras minhas
Tu me tens… Ou tinhas
Palavras de mim, sedentas
Que a nada se deve
… Deve o grito

Grito palavras às escuras
É sangue das veias
E a voz que treme, são as agruras
Se não me falas, se me aturas
Gigantescas ceias
São palavras que devoro, por serem puras

Pureza que me sai, talvez eu quisesse
Falar de tudo ou nada
Contar um conto de fada
Ser o pai de boca escancarada
Que grita por tudo, por nada
Quisesse eu… Escreveria

Noites brancas, dias pretos
Pelas linhas de um corpo branco
O meu caderno, a minha alma
Com calma
Me arrepio pelo sangue nos espetos
Os aguçados palavrões que não digo
Sou franco

Mas… Grito… Grito
Palavras com tinta sem cor… Coloridas
Cores sofridas
Cores pastel
Cores diluídas
Sem tinta… Com mel
É o meu grito em poesia
Às palavras que vou soletrando
De vez em quando… Mania


José Alberto Sá

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