Vivo cada palavra
Grito às palavras violentas
O sino toca no tilintar da
garganta
Sinto a queda nas palavras
nojentas
Gritos entre linhas,
com voz de quem não canta
Cantigas sem notas, na linha
deitada…
Sem manta
A manta onde não me deito, sem
pêlo
Na aspereza do ser cansado,
por ter gritado
Sinto-me o fósforo queimado
Quando semeio palavras de
olhos fechados
O escuro dos gritos abafados
E tudo é irresistível ao
vazio… Nem vê-lo
Nem vê-lo, nem tê-lo
Um novelo de lã que desfio
São as palavras ditas sem
forma
Palavras que me toma
Como se o verão fosse frio
Frio escaldante… É neve, é
gelo
É grito da boca que se
desfaz, ácida
É greta de Vénus despida sem
sol
É escrita maldita erótica sem
mal
É vê-lo, é tê-lo
Pó de acácia
Sufoco das linhas poeirentas
Da flor em desmaio…
Fecundação
Eu grito… Ninguém me impede
Grito…
Bailo nas famintas palavras
minhas
Tu me tens… Ou tinhas
Palavras de mim, sedentas
Que a nada se deve
… Deve o grito
Grito palavras às escuras
É sangue das veias
E a voz que treme, são as agruras
Se não me falas, se me aturas
Gigantescas ceias
São palavras que devoro, por
serem puras
Pureza que me sai, talvez eu
quisesse
Falar de tudo ou nada
Contar um conto de fada
Ser o pai de boca escancarada
Que grita por tudo, por nada
Quisesse eu… Escreveria
Noites brancas, dias pretos
Pelas linhas de um corpo
branco
O meu caderno, a minha alma
Com calma
Me arrepio pelo sangue nos
espetos
Os aguçados palavrões que não
digo
Sou franco
Mas… Grito… Grito
Palavras com tinta sem cor…
Coloridas
Cores sofridas
Cores pastel
Cores diluídas
Sem tinta… Com mel
É o meu grito em poesia
Às palavras que vou
soletrando
De vez em quando… Mania
José Alberto Sá
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